quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Magellan VII - Parte II




Ano 3116 CH - Ciclo 01 – Semana 1



Temperatura média 24ºC, sem sinal de nuvens, brisa leve e fresca. Os cacos de vidro dos prédios desmoronados brilham sob o sol do meio-dia, encobrindo as ruas e calçadas da longa avenida. A fumaça se ergue das poucas árvores que restam, contrastando com o azul dominante do céu. Uma paisagem tranquila e aparentemente imperturbável.

Até um veículo branco, arredondado e flutuante surgir ao atravessar um monte de entulho, espalhando ruído, vidro e concreto em todas as direções. Vários rapazes e moças armados com tacos de beisebol o perseguem, mas só lhes resta praguejar em meio aos escombros ao vê-lo se afastar sobre o mar de vidro intransponível por terra.

A frente do bando, um rapazote magrelo de olhos avermelhados e cabelos castanhos bagunçados encara o ponto branco distante com ódio contido, destoando da algazarra irracional que seus companheiros fazem. Frustrado, ele urra furiosamente e bate seu taco de beisebol dourado no chão com força suficiente para trincá-lo.

DESGRAÇADOS!!!

Dentro da cabine para três pessoas, um casal respirava aliviado. As janelas seladas com película escura escondiam a paisagem desoladora, mas não era preciso muita imaginação para visualizar o ambiente ao redor.

Nós acabamos de atravessar o edifício Montparnasse II, certo?

Finalmente despistamos aqueles moleques raivosos e você está preocupada com o prédio, Kari?

“Apenas” o prédio mais alto do que costumava ser o mais avançado projeto arquitetônico do continente, Ymir... acho que é mais importante do que aqueles psicopatas. – ela não disfarçou a forte melancolia no comentário.

Ymir suspirou, tirou uma das mãos do controle em forma de U e pousou-a sobre as da garota. Ela ensaiou um sorriso com a força que restava e olhou carinhosamente para ele. As últimas semanas haviam sido uma eternidade de provações, mas um filete de salvação era agora quase visível.

Estamos perto da capital. Com sorte encontraremos sua irmã antes do anoitecer, finalmente... Espero que ela esteja em condições de nos receber.

Dione garantiu que o Endeavour está seguro, apesar de isolado. A essa altura, prefiro acreditar nela cegamen...

Repentinamente, as luzes de emergência piscaram freneticamente e o painel externo exibiu um exterior tão vermelho quanto o interior. Um grande incêndio estava à frente deles, o que fez a pele morena de Kari acinzentar.

Parece que contornar está fora de questão. Ymir sorriu nervosamente e engoliu em seco, sentindo a temperatura aumentar consideravelmente.

Altura e velocidade máxima. ela disparou, o olhar vidrado na tela e as mãos sobre as de Ymir. Depois de alguns instantes, completou – Eu te amo, astronauta caçula.

Eu te amo, engenheira novata.

Desafiando o oceano flamejante, o veículo seguiu em frente a toda velocidade.

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